domingo, 29 de junho de 2008

Ontem sonhei que estava em Moscou...

As fogueiras dos sãos invadem as cidades
Queimam as vaidades e esfriam o quentão


Não vejo com bons olhos as festas juninas daqui
Talvez seja o preconceito de quem já passou o mês de junho na Bahia
Mas não consigo aceitar a festa do ridículo que se transforma um período tão especial

Ainda posso lembrar do cheiro da palha que cobria as barracas
Delas saiam fitas coloridas que se uniam no centro da praça, a praça do forró
Visão ampla não tive muita, ou conversava com amigos, no pouco espaço que conseguíamos, ou
estava bebendo, ou dançando, ou beijando
Antes, repudiava forró; e no final do quarto dia, dançava o pé de serra como uma nordestina nata
Mas nunca com o baiano perfeito que não dançava forró e nem comia acarajé o.O
E às 10 horas da manhã era hora de dormir
Pudera, dois palcos não são montados na intenção de deixar alguém parado
Nunca vou esquecer o gosto daquela bebida que levava água de coco;
Nem do sotaque que voltei falando em apenas algumas semanas;
Nem de como é bom ter os olhos beijados.

... Dançando pagode russo na boate Cossacou. Parecia até um frevo naquele cai ou não cai.

sábado, 28 de junho de 2008

Assim caminha a humanidade

Quando você pensa que conseguiu se safar porque virou o rosto na hora certa, e evitou que aquela pessoa chata se aproximasse, acredite: a pessoa chata está pensando a mesma coisa.

É como mudar a página da internet no momento em que alguém abre a porta. Ou se soltar do namorado, em um amasso daqueles, quando a sua avó entra na sala.

O que te motiva a continuar agindo assim? A hipocrisia do outro. Espera-se que, por mais que o ato seja percebido, nenhum comentário seja realizado.

Você entra no ônibus e se preocupa em pegar a passagem. É o tempo que tenho para olhar para a rua, ou começar um cochilo leve cochilo. Aí você passa mostrando na face uma vontade absoluta de encontrar um lugar no último banco do ônibus; e não me vê.

Cômodo. Continuamos a ficcional civilização, mas evitamos um tênue desgaste facial, regado a sorrisos largos e gestos obrigatórios.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

e é só senhor presidente.

Há quatro anos, eu pesquisava qual seria o candidato a vereador que teria a honra de receber o meu primeiro voto. Ficava lamentando o fato de não votar em Santos, lá eu teria candidato certo. Não que fosse o melhor, mas com esse sentava no bar, tomava cerveja e conhecia boa parte dos projetos. Mas eu morava, e ainda moro, em São Vicente; e era daqui que tinha que sair alguém.

Estudando projetos me inclinei para um. Noite chuvosa, e lá vou eu para o quintal de uma das casas do bairro para participar de uma reunião que envolvia o cidadão. Papo vai, papo vem. Lábia vai, lábia vem. E não via outra alternativa. Quer dizer, tinham muitas outras... e eu não ia procurar todas elas nem a pau!

Promessas? Inúmeras. Cumpridas? Sim... cumpridas. Não da forma que eu esperava, mas foram cumpridas sim! E trouxeram alguns benefícios.

Com meu primeiro voto, aprendi que as promessas não precisavam ser direcionadas para mim - fui à urna aquele ano com interesses pessoais até o último fio de cabelo.

Melhor seria se elas não existissem, acho até que estão foras de moda. Mas o que tem de gente retrô por aí não tá escrito.

terça-feira, 24 de junho de 2008

...

Um dia tentei entender o poder da pinha. E quase fiquei doidinha também. Tenho meus medos de descobrir a verdade, ô se tenho! Mas nada me impulsiona mais do que passar a noite em claro, esperando o responsável pelo aperto no peito chegar.

Aquele sorriso irônico só consegue me causar mais ódio. Sentimento que tá se voltando pra pessoa errada, porque sei que não é ele. Não são dele as palavras chulas, nem o olhar de raiva constante, nem o sono na hora errada; muito menos o desprezo.

Como uma criança que apronta, sai correndo atrás do rastro, grita frases destoantes, foge do convívio familiar. Não ele, mas este, que Ele sim vai me ajudar a enfrentar. Não é bom comprar a briga, mas é isso que estou fazendo neste exato momento. E só de escrever a dor volta e sufoca. Mas vou arrumar forças pra arrancá-lo de lá, nem que perca tudo o que não tenho, nem que abandone a sanidade no meio do caminho. Nem que tenha que ficar dia e noite ao lado da maldita pinha, porque eu sei que a resposta passa por ela.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

E se beber, não dirija! [mania maldita de títulos nada a ver]

Ela andava com os braços cruzados sobre o colo. A chuva havia bagunçado todo o cabelo, que agora escorria pelo rosto e se misturava àquela expressão vazia. Não havia por que correr. A casa ainda estava longe, e a chuva era, de fato, torrencial.

Paula havia bebido durante toda a noite. Ela não esperava voltar dirigindo porque nem bicicleta tinha. A certeza de que não precisaria colocar a boca em bafômetros oferecidos com olhares maliciosos por malditos rodoviários pessimamente fardados foi a principal responsável pelas caipirinhas, vinhos e misturas, que nem ela conhecia o conteúdo. Beber com os amigos era mais que divertimento, era uma obrigação. A única maneira de mostrar que estava por perto, descobrir as novidades, arrumar pequenas discussões que não demonstravam mais que afeto e dormir como um bebê quando se jogava na cama cheia de roupas que deveriam estar no guarda roupa.

Era difícil fazer outro tipo de programa nas sextas. Já no sábado, as promessas de mudanças comportamentais eram repetidas pela boca que espirrava pasta de dente no espelho, enquanto as olheiras eram praguejadas. Mas voltar para casa depois do trabalho e ficar vendo televisão sozinha na bendita sexta-feira era um verdadeiro martírio. Não importava se naquele dia ela tivesse saído às ruas com algo que mais parecia um pijama, sexta era dia de pedir uma ligação pra celular no PABX da empresa e pegar o ônibus que passasse mais próximo do ponto de concentração escolhido na semana.

Naquela sexta-feira, era preciso subir em qualquer coisa que cobrasse tarifa intermunicipal, o que já era um absurdo para os bolsos. O destino: um posto de gasolina. Uma piadinha sobre o consumo de álcool parou antes de chegar às cordas vocais de Paula, quando conversava com Juliana ao telefone.

— Mas no posto? – perguntava ainda incrédula.

— É! A galera tem colado lá. Depois a gente pensa pra onde vai.

Juliana tinha sempre a mesma desculpa para os encontros que marcava em praças, fliperamas e esquinas estranhas. Depois que todos estivessem lá, a idéia era ir para outro lugar. Mas sempre faltava alguém, que um outro saia para buscar, ambos sumiam do mapa em um mundo de celulares pré-pagos, e todos os outros esperavam os primeiros voltarem até umas seis horas da manhã.

Quando Paula chegou ao posto, o álcool já havia saído das garrafas como verdadeiras bombas e, no mínimo, subido à cabeça de alguns garotões que disputavam quem tinha a bazuca do carro mais potente.

— Em vez de som, essas coisas poderiam conter munição – sussurrava para si mesma – seriam bem mais úteis.