sexta-feira, 20 de junho de 2008

E se beber, não dirija! [mania maldita de títulos nada a ver]

Ela andava com os braços cruzados sobre o colo. A chuva havia bagunçado todo o cabelo, que agora escorria pelo rosto e se misturava àquela expressão vazia. Não havia por que correr. A casa ainda estava longe, e a chuva era, de fato, torrencial.

Paula havia bebido durante toda a noite. Ela não esperava voltar dirigindo porque nem bicicleta tinha. A certeza de que não precisaria colocar a boca em bafômetros oferecidos com olhares maliciosos por malditos rodoviários pessimamente fardados foi a principal responsável pelas caipirinhas, vinhos e misturas, que nem ela conhecia o conteúdo. Beber com os amigos era mais que divertimento, era uma obrigação. A única maneira de mostrar que estava por perto, descobrir as novidades, arrumar pequenas discussões que não demonstravam mais que afeto e dormir como um bebê quando se jogava na cama cheia de roupas que deveriam estar no guarda roupa.

Era difícil fazer outro tipo de programa nas sextas. Já no sábado, as promessas de mudanças comportamentais eram repetidas pela boca que espirrava pasta de dente no espelho, enquanto as olheiras eram praguejadas. Mas voltar para casa depois do trabalho e ficar vendo televisão sozinha na bendita sexta-feira era um verdadeiro martírio. Não importava se naquele dia ela tivesse saído às ruas com algo que mais parecia um pijama, sexta era dia de pedir uma ligação pra celular no PABX da empresa e pegar o ônibus que passasse mais próximo do ponto de concentração escolhido na semana.

Naquela sexta-feira, era preciso subir em qualquer coisa que cobrasse tarifa intermunicipal, o que já era um absurdo para os bolsos. O destino: um posto de gasolina. Uma piadinha sobre o consumo de álcool parou antes de chegar às cordas vocais de Paula, quando conversava com Juliana ao telefone.

— Mas no posto? – perguntava ainda incrédula.

— É! A galera tem colado lá. Depois a gente pensa pra onde vai.

Juliana tinha sempre a mesma desculpa para os encontros que marcava em praças, fliperamas e esquinas estranhas. Depois que todos estivessem lá, a idéia era ir para outro lugar. Mas sempre faltava alguém, que um outro saia para buscar, ambos sumiam do mapa em um mundo de celulares pré-pagos, e todos os outros esperavam os primeiros voltarem até umas seis horas da manhã.

Quando Paula chegou ao posto, o álcool já havia saído das garrafas como verdadeiras bombas e, no mínimo, subido à cabeça de alguns garotões que disputavam quem tinha a bazuca do carro mais potente.

— Em vez de som, essas coisas poderiam conter munição – sussurrava para si mesma – seriam bem mais úteis.

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