Ela andava com os braços cruzados sobre o colo. A chuva havia bagunçado todo o cabelo, que agora escorria pelo rosto e se misturava àquela expressão vazia. Não havia por que correr. A casa ainda estava longe, e a chuva era, de fato, torrencial.
Naquela sexta-feira, era preciso subir em qualquer coisa que cobrasse tarifa intermunicipal, o que já era um absurdo para os bolsos. O destino: um posto de gasolina. Uma piadinha sobre o consumo de álcool parou antes de chegar às cordas vocais de Paula, quando conversava com Juliana ao telefone.
— Mas no posto? – perguntava ainda incrédula.
— É! A galera tem colado lá. Depois a gente pensa pra onde vai.
Juliana tinha sempre a mesma desculpa para os encontros que marcava em praças, fliperamas e esquinas estranhas. Depois que todos estivessem lá, a idéia era ir para outro lugar. Mas sempre faltava alguém, que um outro saia para buscar, ambos sumiam do mapa em um mundo de celulares pré-pagos, e todos os outros esperavam os primeiros voltarem até umas seis horas da manhã.
Quando Paula chegou ao posto, o álcool já havia saído das garrafas como verdadeiras bombas e, no mínimo, subido à cabeça de alguns garotões que disputavam quem tinha a bazuca do carro mais potente.
— Em vez de som, essas coisas poderiam conter munição – sussurrava para si mesma – seriam bem mais úteis.
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