sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Conversa de botas batidas

Já não vejo motivos pra um amor de tantas rugas não ter o seu lugarEu olhava a praça sentada no banco elevado do ônibus quando o homem de cavanhaque e cabelos brancos entrou e parou ao meu lado.
— Vou sentar aqui porque fico mais perto do ventinho da janela — completou ao se acomodar.
Depois de um sorriso sem graça, pensei que a conversa terminaria ali, afinal, de óculos escuros e péssimo humor, não seria eu mantenedora de bom bate papo com ninguém.
— Essa história de ventinho já me rendeu um casamento, acredita? — ele disse.
— Jura? — perguntei, arrependendo-me em seguida, já que pensei que o velho começaria ali um xaveco para me deixar ainda mais mal humorada. Mas eu estava errada. Foi iniciada ali mais uma sessão das minhas tão adoráveis terapias-relâmpago.

Com 71 anos de idade, mas aparentando no máximo 60, o viúvo casou-se novamente graças ao que ele chamou de "ventinho auspicioso". Há cerca de 3 anos, ao escolher para sentar o mesmo lugar de onde me contava essa história, ouviu da loira que ocupava o "meu lugar" uma pergunta inesperada:
— Prefere sentar na janela ou no corredor?

A demonstração de educação encantou o homem. Este desfiou elogios à mulher e passados alguns Canais (sete canais cortam a orla de Santos) já conversavam como "bons amigos". Depois de anotar o número de telefone da loira, o primeiro encontro foi marcado, seguido do casamento, oito meses mais tarde.

Nesse meio tempo ouvi uma série de conselhos sobre como respeitar a si mesmo, fortalecer o amor pelo outro, ceder na relação, aguentar a sogra e vencer as diferenças religiosas entre os dois.

No meio dos 30 minutos de conversa – sim, já era uma conversa – meu celular tocou.

Droga! Mais uma vez não conseguia ter certeza de que era realmenteuma boa ideia colocar toda essa teoria em prática.

2 comentários:

Nathália Geraldo disse...

que lindo!
"diz quem é maior que o amor?" :)
e adorei tbm o texto sobre seu pai...

beijo, line

Cruela Veneno da Silva disse...

eu queria esse conselho da sogra